Professor nos Estados Unidos, pianista relembra os anos de formação na Fundação das Artes

Formado em piano pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul, Daniel Inamorato iniciou seus estudos ainda criança em musicalização pela instituição. O alto nível de formação dos professores foi fator decisivo para que continuasse os estudos e seguisse carreira como pianista.
Seu primeiro concerto foi com apenas 9 anos, junto à Orquestra Sinfônica Jovem da Fundação das Artes, e antes mesmo de ingressar no curso de Bacharelado em Piano na Universidade de São Paulo, já havia vencido mais de 30 concursos de piano e trabalhava em diversas instituições pelo Brasil, como o Festival de Música de Londrina, a Fundação Maria Luiza e Oscar Americano. Além disso, realizou recitais solo anuais no Museu Brasileiro de Escultura e em diversos festivais de música.
Daniel relembra que toda a sua base musical na Fundação das Artes foi crucial para tornar-se o músico que é hoje e também de seus colegas que buscam carreira internacional, devido ao trabalho árduo dos professores e da diversidade de aulas, treinamentos e conhecimentos durante a formação, como treinamento auditivo, aulas de rítmica, história da música, canto coral, concertos, peças de teatro, exibições de artes visuais, entre outros.
"A Fundação é uma escola completa, e seus professores estão dentre os melhores da America Latina", afirma o pianista.
Tal formação foi decisiva para sua carreira, que se solidificou quando foi morar nos Estados Unidos para estudar com o pianista Arnaldo Cohen. No país já trabalhou nas Universidades de Indiana, DePauw, Hampton, Christopher Newport, foi artista em residência na Universidade da Carolina do Norte como Coach em Ópera e hoje é professor de piano na University of William & Mary, uma das melhores universidades públicas daquele país.
Mas uma carreira de sucesso também é repleta de desafios. Aulas extras, caronas para concursos de pianos, intrumentos emprestados (muitas vezes pelos próprios professores), estudando dentro de trens e ônibus, noites esperando pelo primeiro trem da manhã depois de apresentações.
"Foi sofrido, foi pesado, e em momentos até violento; mas meus professores me mantiveram focado, a música sempre me mantendo a sanidade, e graças a toda a ajuda que recebi destes artistas mais experientes, hoje posso fazer o mesmo por outras pessoas", relembra Daniel.
Além de músico e professor, Daniel realiza trabalhos voltados à Educação Inclusiva juntamente à irmã Viviane Louro, também pianista e doutora em neurociências, que dedica sua carreira ao ensino e inclusão musical.
Nesta área, foi professor na Estação Especial da Lapa – projeto administrado pela Divisão de Medicina de Reabilitação (DMR) do Hospital das Clínicas de São Paulo, que oferece cursos de iniciação profissional, oficinas culturais e esportes adaptados para pessoas com deficiência –, e desenvolveu metodologias que hoje ensina a quem tem interesse em trabalhar com inclusão na música.
Na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, trabalhou com alunos neurodiversos (pessoas com deficiência, Autismo, entre outros) e atualmente dirige a Teia de Ideias, empresa que fica em Pernambuco, que desenvolve materiais pedagógicos adaptados e oferece consultoria e cursos às escolas que queiram que seus professores de música saibam trabalhar com esse público.
Com iniciativas como o Programa de Apoio Pedagógico e Inclusão (PAPI) da Fundação das Artes para alunos com deficiência e distúrbios de aprendizagem – que completa 15 anos de existência em 2022 –, o pianista acredita que a Fundação das Artes pode se tornar referência mundial em educação musical inclusiva.
Apesar das adversidades da vida e desigualdade sócio-econômica, Daniel reforça que quem quer ser músico e viver da música tem de estudar muito e estar ciente que escolhas difíceis surgirão: "Estude idiomas, história, música antiga, toque outros instrumentos, cante, reja, componha, enfim, saia da zona de conforto e aprenda muito", reforça o músico.
Nem sempre a carreira internacional vai dar certo, nem sempre as condições vão ser as melhores ou as que você gostaria, mas que com base em cada experiência tem-se a oportunidade, segundo Daniel, de ter "outros olhares que os mais privilegiados nunca terão". A importância de se ter o próprio olhar e vivência faz parte da jornada e formação de identidade de todo músico, "muita gente pode achar que você têm que ir por um caminho, mas no final das contas quem anda pela estrada é você", finaliza o pianista.
Inclusão na Fundação das Artes- A Fundação das Artes mantém há 15 anos o Programa de Apoio Pedagógico e Inclusão (PAPI), desenvolvendo diversas ações pedagógicas, com a premissa de garantir o direito à cultura e ao aprendizado das linguagens artísticas para todos.
Nesse sentido, busca criar condições para o acesso e a permanência de alunos com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento (autismo), altas habilidades/superdotação, com distúrbios de aprendizagem e/ou em condições diferenciadas de aprendizagem, entre outros, considerando a estrutura e as normas dos diferentes cursos oferecidos.
As professoras Lisbeth Soares e Cássia Bernardino são responsáveis pelo PAPI. E, em comemoração aos 15 anos da iniciativa, a Fundação está promovendo a Roda de Conversa Arte e Inclusão. O primeiro evento ocorreu em 24 de setembro e o próximo, sobre Síndrome de Down, ocorre no dia 22/10, às 15h, presencialmente na própria Fundação das Artes, na unidade Milton Andrade, e online pelo YouTube.
Para encerrar a Roda de Conversa, em novembro ocorre o terceiro e último encontro, que debaterá sobre Transtornos/Distúrbios de Aprendizagem.